O embrião do GT de Assuntos Urbanos da Associação de Geógrafos Brasileiros – Seção Local de Belo Horizonte (AGB-SLBH) surgiu do envolvimento, desde abril de 2009, de membros da Diretoria Executiva Local (DEL) e alguns outros associados no Comitê de Solidariedade à Ocupação Dandara (Céu Azul, Belo Horizonte), organizada pelas Brigadas Populares, Fórum de Moradia do Barreiro e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Até então, a AGB-SLBH, por sua natureza, teve algum envolvimento com tais assuntos desde o seu surgimento em 1988, com participação em fóruns de discussão do Plano Diretor de Belo Horizonte e em algumas iniciativas dos movimentos sociais urbanos locais (cf. o depoimento “A permanente busca do horizonte: a história da AGB-BH”, de William Rosa Alves, na revista Terra Livre, v. 22). Com o crescimento e fortalecimento da Ocupação Dandara e a permanência da Camilo Torres (desde fev. de 2008) e o surgimento das congêneres Irmã Dorothy I e II (março de 2010), tal participação perdurou até a criação do Fórum Permanente de Solidariedade às Ocupações-BH, coletivo que surgiu em outubro de 2010 como forma de articular vários movimentos sociais, entidades, partidos, sindicatos, etc. para prestar solidariedade às ocupações em situação de conflito aberto em Belo Horizonte e a fim de pesar politicamente a favor destas, na tentativa de garantir o direito à moradia das famílias que formam as referidas comunidades. Para além desta solidariedade localizada, o fórum passou a questionar os rumos e significados da (re)produção do espaço urbano de Belo Horizonte. Ainda nesse fórum, as Brigadas Populares tomaram a iniciativa de reuniões a fim de organizar o Comitê Popular dos Atingidos pela Copa, em reposta aos projetos e programas encaminhados pelos governos incidentes em Belo Horizonte – municipal, estadual e federal. Segundo o primeiro documento desse comitê, intitulado “Chamado à População”, o seu “objetivo maior é garantir a apropriação das transformações urbanas e culturais, consequência dos Jogos, em favor das populações trabalhadoras secularmente oprimidas, mas com a tarefa imediata de exigir a transparência e a participação popular direta nas decisões que afetarão a vida de todos, antes e depois dos Jogos. Em resumo, lutaremos decididamente para impedir a violação dos direitos das populações segregadas, pela defesa dos preceitos básicos da Constituição da República e pela garantia do Direito Humano à Cidade”. Ainda que tenha críticas quanto a certas posições defendidas no documento, elaborado por representantes de diversas entidades, a AGB-SLBH participou de sua elaboração e das muitas tarefas requeridas às atividades do comitê. Inicialmente, este envolvimento ocorria sem maiores discussões quanto à qualidade da participação da local bem como sem uma tentativa sistematizada de compreensão e elaboração coletiva quanto aos processos mais amplos de produção e reprodução do urbano.
Voltando ao Fórum..., o acirramento do conflito entre a luta das ocupações e as respostas da governança contemporânea de Belo Horizonte (para a qual parte dos chamados “movimentos sociais urbanos” colaboram) implicou gradativamente nas ameaças de despejo e fez intensificar as atividades e tarefas.
A partir do incômodo relativo a essa forma de participação, puramente ativista, resolveu-se criar um Grupo de Trabalho para qualificar o envolvimento da AGB-SLBH e para buscar melhor compreender tais processos, possibilitando, quiçá, intervir em seu movimento. Sendo assim, os membros do GT se reunem aperiodicamente para leituras e debates.