Nota da AGB: em favor da ação da Via Campesina em 05/03/2015 contra a liberação do plantio de eucalipto transgênico no Brasil
No último dia 05 de março, mulheres da Via Campesina fizeram duas ações coordenadas, uma em Itapetininga (SP), onde depredaram instalações da empresa FuturaGene nas quais eram realizadas pesquisas com modalidade transgênica de eucalipto, outra em Brasília, onde foi interrompida reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), destinada a analisar a liberação do plantio de eucalipto transgênico no Brasil. As ações foram condenadas pela grande imprensa e por entidades da sociedade civil e tachadas de obscurantistas, por impedir o progresso da ciência.
Nós da AGB consideramos que as manifestações em questão dizem respeito a uma luta que vem sendo travada no Brasil há décadas e que dizem respeito ao papel da ciência e tecnologia para o desenvolvimento do país. O desenvolvimento de modalidades transgênicas de soja, milho, feijão, cana e agora eucalipto vem sendo imposto pelo grande capital transnacional ao país sem que avaliações mais profundas dos impactos econômicos, sociais e ambientais sejam realizados e a CTNBio tem sido meramente o espaço de legitimação institucional deste processo, uma vez que é um colegiado composto basicamente por cientistas vinculados aos interesses dessas empresas.
O que está em questão não é a contraposição entre progresso científico e obscurantismo, mas o controle econômico sobre a produção do conhecimento científico que faz com que as modalidades transgênicas sejam liberadas sem estudos científicos amplos e generalizados, por interesse das empresas que possuem a propriedade intelectual sobre essa tecnologia.
A AGB vem através de suas Seções Locais e Grupos de Trabalho denunciando a violência que se abate hoje sobre camponeses, quilombolas e indígenas expulsos de suas terras pela expansão de monoculturas transgênicas, assim como as mazelas causadas pela utilização cada vez mais intensiva de agrotóxicos associados a essas monoculturas, o que faz do Brasil, atualmente o maior consumidor mundial de agrotóxicos.
Sendo assim, a AGB não poderia deixar de manifestar sua solidariedade com os movimentos que lutam contra a subordinação da sociedade brasileira aos interesses das grandes corporações transnacionais.
Defendemos que a ciência e a tecnologia devem estar a serviço da melhoria das condições de vida dos povos e em harmonia com a natureza e não subordinada aos interesses do capital.
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)