NOTA DA AGB SOBRE O GOLPE PARLAMENTAR DE 31/08/2016

08/09/2016 11:19
                A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) manifesta seu repúdio ao consumado Golpe Parlamentar de 31 de Agosto de 2016, resultante no impedimento da presidenta eleita Dilma Roussef. Esta “nova-velha” fase da história política brasileira demonstra o acirramento da luta de classes e o imperativo de organização popular frente aos retrocessos sociais postos em curso. Verifica-se, assim, o escamoteamento da já frágil democracia brasileira e da necessidade de lutarmos pela efetivação de soluções aos problemas econômicos e sociais, bem como pela consolidação efetiva de direitos e da garantia de seu exercício pleno.
Com a posse oficial do Governo Golpista, acelera-se o processo de construção de uma ampla e violenta reforma neoliberal no Brasil, iniciada ainda nos Governos anteriores (Lula e Dilma). Esse projeto realiza-se a partir da apresentação, ao Congresso Nacional, de Projetos de Lei Complementar (PLPs) e Propostas de Emenda Constitucional (PECs) que buscam, em um contexto de recessão econômica, garantir medidas que beneficiam, sobretudo, o setor financeiro e os donos dos meios de produção, em detrimento dos interesses da classe trabalhadora e de seus direitos básicos previstos na Constituição Federal. A efetivação desse projeto político representa retrocessos sociais aos trabalhadores mais empobrecidos, com o aumento dos obstáculos para o acesso aos serviços públicos, mas também para classe média, com a elevação do custo de vida, na medida em que a ampliação das privatizações e da concentração de renda e de riqueza comprometem direitos e salários em todos os níveis sociais.
consumação do projeto neoliberal no país, como indicam as medidas já tomadas pelo governo interino (além das anunciadas, como a PEC 241) e os 59 projetos de lei encaminhados ao Congresso Nacional, selam a recusa da igualdade econômica, social, racial, sexual e religiosa buscada nos últimos anos pela organização dos sujeitos oprimidos e dos movimentos sociais e sindicais em todo o território brasileiro. A possibilidade de resistência a esse processo também está sendo negada, uma vez que se faz presente em todo país o uso inescrupuloso da violência policial contra as manifestações de contestação ao processo de impedimento. Esta postura anuncia o caráter antidemocrático e autoritário deste governo, que por ora emprega o recurso da lei antiterrorismo contra a população insurgente – lei esta, convém lembrar, aprovada no governo Dilma.
Com o Golpe Parlamentar, as classes dominantes e seus aliados avançam sobre os interesses dos trabalhadores e dos setores populares, reforçando a lógica de que as classes dominadas devem produzir as riquezas, mas delas não usufruir. A tomada da presidência por Michel Temer significa o ataque aos direitos civis, aos direitos sociais e aos direitos dos trabalhadores, impede a possibilidade de efetivação das necessárias reivindicações, demandas e ações diretas pela construção de uma democracia plena. Destaca-se o papel da grande mídia, que detém o monopólio da informação e manipula os fatos segundo seus interesses econômicos e políticos, contribuindo para o acirramento da polarização político-ideológica, reprimindo os discursos contra hegemônicos e impossibilitando a legitimação dos sujeitos que constroem narrativas que denunciam os reais interesses do Golpe Parlamentar.
A Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) vem se posicionando sobre a situação política do país desde o primeiro momento, quando denunciou o golpe parlamentar em curso e os efeitos desse cenário para a democracia [1]. Convocamos as geógrafas e os geógrafos a se somarem às forças de resistência e combate aos retrocessos sociais e políticos que os usurpadores buscam impor, via Estado, à sociedade. É urgente que o conjunto dos setores democráticos e progressistas ocupem todos os espaços políticos e ideológicos possíveis, para que se criem novas frentes de lutas: nas fábricas, nos sindicatos de trabalhadores rurais e urbanos, nas associações de moradores, nos coletivos, nos movimentos de juventude, nas entidades culturais, nas escolas, nas universidades, em todo espaço propício ao diálogo. Com determinação e sem tréguas, impõe-se ocupar, resistir e, sobretudo, lutar por uma democracia popular que apenas será possível com a realização de radicais transformações sociais e econômicas da ordem capitalista brasileira.
Para que seja possível atingir tais objetivos, a derrota política e ideológica dos golpistas e conservadores é uma condição fundamental e urgente. Tomemos a ciência geográfica como instrumento analítico da realidade concreta que vivemos, como fundamento da crítica, como veículo da denúncia deste modelo político, como arma de resistência ao golpe e aos desafios que estão por vir.
Conclamamos a todos os Geógrafos, que tanto lutam para defender a concretização de um projeto político de nação baseada na justiça social e na democracia plena, que construam coletivamente alternativas de resistência baseadas no saber geográfico e possibilitem a concretude de outro futuro: por meio da ação das Seções Locais, dos Grupos de Trabalho, dos espaços da Associação dos Geógrafos Brasileiros.
 

[1] FORA TEMER! ABAIXO O GOLPE POLÍTICO-JURÍDICO-MIDIÁTICO!