Relato da 2ª Reunião do Grupo de Trabalho Geografia e Educação da AGB-SLBH - 09/04/2011

19/01/2025 11:20

Relato da reunião, ocorrida em 09 (nove) de Abril de 2011, do Grupo de Trabalho sobre Educação da Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local Belo Horizonte

No dia 09 de Abril de 2011 conforme convocatória enviada aos associados e demais interessados, às 14 horas, no Centro Cultural da UFMG, aconteceu a segunda reunião do GT de Educação da AGB-BH. Estiveram presentes 11 participantes, entre professores de educação básica, estudantes de graduação e outros interessados no debate. Foram indicadas para leitura duas obras, que pudessem dar subsídios à discussão, e optou-se pelos livros “O que é Educação”, de Carlos Rodrigues Brandão e “Pedagogia da Autonomia”, de Paulo Freire. A discussão teve início com a leitura do relato da primeira reunião. Em seguida, após uma conversa entre os participantes, optou-se por fazer uma discussão mais ampla, partindo do próprio conceito de Educação. Assim, resolve-se partir do primeiro texto indicado.

Nesta obra, o autor amplia a discussão sobre a educação, iniciando o diálogo da educação a partir das sociedades indígenas, dos processos de troca de conhecimentos e de aprendizagem coletivos entre sujeitos inseridos numa coletividade. Essa definição é importante porque se contrapõe à forma como a educação passa a ser compreendida num dado momento histórico especifico, da sociedade dividida em classes, onde este processo é formalizado e cria-se uma espacialidade “própria” para o processo de aprendizagem, um lugar para este saber, que é a escola. Contudo, sabe-se que este não é o único espaço onde as pessoas aprendem. Portanto, uma coisa é a educação e outra é a escola. A educação passa a ser dever do Estado e valor universal; torna-se uma instituição: a escola. Impõe um saber e um modo de ensinar (e, portanto, uma coisa é a educação e outra é a escola – parte deslocada). A partir daí discutiu-se o papel da escola no processo educativo geral (qual educação?) e na sociedade na qual vivemos. Os limites e as possibilidades da escola e da Geografia na escola. A necessidade de se apropriar da escola, transformá-la, compreendendo-a de forma crítica e intervindo nesta espacialidade. Discutiu-se também os limites e as possibilidades do trabalho docente na escola, as restrições e determinações que têm sido impostas pelo Estado em relação aos conteúdos, tirando do professor a autonomia para definir os temas e conteúdos com os quais pretende trabalhar. A proletarização do professor, levado a um processo de trabalho precário onde a finalidade de sua atividade já está posta.

Com relação à Copa do Mundo de Futebol 2014, ponderou-se que podemos até discutir a inserção deste evento na escola, mas isso pode ser apenas tático, mesmo restrito, uma vez que se trata de processos urbanos que atingem e modificam o contexto da cidade como um todo. A questão mesmo, decisiva pra uma estratégia, é partir de como a relação Estado-capital-trabalho educa a população para um aceitamento passivo do consumo dessas mercadorias, isto é, de ser consumida como mercadoria que permite a exploração de uns pelos outros e a acumulação de uns enquanto outros ainda acham que tão levando vantagem.

Uma ferramenta analítica (BRANDÃO) importante que nos apropriamos no GT Educação passado é entender a educação como três coisas articuladas, resumidamente:

1. Uma ideia. Produz um pensamento sobre o que é o mundo: se é suficiente continuá-lo como está ou se é necessário mudá-lo. Então, idealizamos o processo que satisfaça essa necessidade. Pensamos uma forma de pedagogia, uma didática, uma maneira de que as pessoas se socializem numa ou noutra perspectiva, uma maneira de que a sociedade se reproduza nessa contradição de conteúdo conservador ou revolucionário - entre esses extremos, preto e branco fica cinza mais claro, mais escuro; dialética.

2. Uma prática. É a ideia se materializar. Satisfazer tal necessidade pode se dar mediante um convencimento por meio de repressão, espancamento, silenciamento, etc., e/ou por meio da cooptação, do suborno, do privilégio, etc., e ou por meio de uma participação consciente e autodeterminada, de uma práxis etc. Existem divisões do trabalho e do poder nessas práticas que colocam em questão a ideia e a própria prática. A condição de forma e de conteúdo é tensionada inicialmente aqui. É a contradição localizada: tem um vai e volta com a ideia, que produz outra ideia, que por sua vez produz outra prática, que por sua vez...

3. Uma instituição. É a especificidade do onde: tempo-espaço-sujeito a ideia e prática se historicizam, produz um objeto. É a situação em que as ideias e as práticas não são autônomas, isto é, existem condições, determinantes, imperativos, enfim, produz-se um movimento limitado no tempo e no espaço da sociedade. Tem contingência e necessidade. É condição e consequência. Dentro da instituição, existe a briga, tácita ou aberta, entre quem tem ideias e práticas instituídas (re-formam) e instituintes (trans-formam). A relação ideia-prática se torna contraditória não somente internamente, mas externamente, objetivamente, socialmente - é a contradição distribuída.

Precisamos de escala pra pensar a educação e a Copa: o bairro pode ser a categoria analítica, mas também pode ser a mídia (aquela gostosa da cerveja...), o ônibus, o indivíduo, o partido, o estado de minas gerais, a família, o mineirão, a classe social, o bandejão, o município de belo horizonte, a cama, a humanidade, o assentamento da reforma agrária, a igreja, o automóvel, a regional da prefeitura, a lan house, a boca de fumo, a biblioteca, o país, o sindicato, a América Latina, o posto de saúde, o shopping center, a ocupação, a hinterlândia, a praça, a rua, a delegacia, a fábrica, a universidade, a brasilinha do Aécio, entre muitas outras. A ESCOLA é somente uma dessas formas em que a institucionalidade se realiza, como cada exemplo dado. Nem MAIS nem MENOS.

Assim, apareceu a proposta de pensarmos a educação a partir do tripé Estado, Capital e Trabalho, inclusive chegando a discutir neste contexto os grandes eventos esportivos no contexto da Educação. Como este processo tem chegado à escola? Como ele tem sido discutido? Pensou-se sobre a necessidade de debater mais sobre isso nas próximas reuniões do GT.

Ao final, foi proposto e aceito que na próxima reunião haverá uma breve exposição sobre os textos escolhidos, para poder explorar melhor o texto durante a discussão. Os textos escolhidos para a próxima reunião do GT foram “Sociedade Sem Escolas”, de Ivan Illich, “Educação para além do Capital”, do Meszaros e “Cuidado, Escola”, do Instituto Paulo Freire. Criou-se uma lista de discussão entre os participantes do GT de Educação (gteducacaoagbbh@yahoogrupos.com.br) pela qual serão postados os arquivos que estiverem disponibilizados na internet. Enfim, com o intuito de nortear a discussão, propôs-se que cada participante escreva um pequeno texto, a ser enviado no e-mail do grupo uns três dias antes da próxima reunião, elaborando suas impressões e preocupações quanto à problemática da educação, podendo para isso, se for o caso, basear-se nos textos-base ou outros. A próxima reunião foi marcada para o dia 07 de maio, às 14 horas, novamente no Centro Cultural da UFMG.