Eldorado dos Carajás: 16 anos de violência e impunidade

17/08/2016 15:56

No dia 17 de abril de 1996, na Curva do S, na rodovia PA-150, no município de Eldorado dos Carajás, no Sul do Pará, 19 trabalhadores rurais sem terra foram assassinados pela polícia militar do estado do Pará. Outros tantos morreram em decorrência dos ferimentos. Os relatos das testemunhas e os dados da perícia são inequívocos: muitos foram sumariamente executados. Seu crime: lutar pela reforma agrária e contra o latifúndio. Eram trabalhadores ligados ao MST que marchavam em direção a Belém exigindo a desapropriação de latifúndios improdutivos e que bloquearam a rodovia em forma de protesto.

O governador e o secretário de segurança ordenaram a desobstrução à força da rodovia. Dois batalhões foram acionados para realizar a operação. 154 policiais a executaram. E promoveram o maior massacre no campo brasileiro dos últimos tempos. Houve outros, como Canudos e Contestado.

Dezeseis anos se passaram e até hoje ninguém foi punido. O governador e o secretário de segurança que ordenaram a desobstrução à força da rodovia foram inocentados. Os 154 policiais que executaram a ação foram inocentados. Os dois comandantes de batalhões envolvidos na operação foram condenados com penas de mais de 200 anos de prisão cada um, porém recorreram em liberdade e continuam livres até hoje.

Diante deste cenário de impunidade a violência no campo se reproduz a cada dia, contra sem-terras, indígenas, quilombolas, posseiros e tantos outros trabalhadores do campo, vítimas de trabalho escravo, de ameaças de morte, de expulsão de suas terras.

Mas o problema não está apenas na impunidade, mas, sobretudo, na persistência de uma estrutura fundiária concentrada, dominada pelo latifúndio e na inexistência da reforma agrária, tantas vezes prometida e nunca realizada.

Neste Dia Internacional da Luta Camponesa, a AGB se solidariza com todos os trabalhadores e trabalhadoras que lutam pela reforma agrária e contra a violência e a impunidade no campo. E saúda as lutas e manifestações em curso no dia de hoje para que o Brasil e o mundo nunca se esqueçam deste triste episódio.

 

Coletivo da Diretoria Executiva da Associação dos Geógrafos Brasileiros

Rio de Janeiro, 17 de abril de 2012